(Conto 3)
E ela entrou na sala. Vestia um vestido simples. O cabelo comprido e castanho escuro tinha sido seco há minutos e esvoaçava ligeiramente ao pé da janela aberta que dava para uma colina verdejante. Estavam num apartamento pequeno durante apenas uns 3 dias, fim de semana prolongado. Daqueles fins de semana algures longe de tudo, em que só se ouve o silêncio e os grilos lá fora. Aqueles em que o calor aperta e o tempo pára.
Alheia a qualquer olhar ela parou em frente à janela e respirou o ar puro. Nada batia as flores e o verde à sua frente. A mente dela esvaziou-se e nada existia, apenas aquele impulso imperioso dos pulmões a respirar ar puro. Quase fechou os olhos... Adorava momentos de silêncio quase tanto como adorava o rebuliço de pessoas à sua volta, ou o som potente de música a tocar.
Silenciosamente como sempre, ele observava-a, sentado numa cadeira, parando o que estava a fazer. Não com apetite voraz. Mas como quem olha uma obra de arte, a absorver o modo como a franja lhe caía teimosamente sob o olho esquerdo, como o tecido do vestido lhe abraçava o contorno do rabo e das pernas, o modo como ela se movia lenta e pensativamente.
Ela sorriu então e lembrou-se das palavras dele um dia:
"Tu és um poema."
E era assim que ela se sentia sempre que ele a olhava silenciosamente daquele modo...
Ela seria sempre um poema, o poema dele.
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