quarta-feira, 25 de julho de 2018

A Fada das Chuchas - strike 2

Dia 1.

E assim foi.
Depois de meses a sondar uma possível largada de chuchas ("na... depoix... daqui a muitos tempos, no otro fim-de-xemana"), há 2 dias, meio na brincadeira e ao deitar o P., "Então P., quando é que dás as chuchinhas à fada?". E não é que o rapaz se vira para mim e diz muito decidido "Hoje. Dás tu hoje à fada" e dá-me decidido as 2 chuchas residentes da sua cama. Caiu-me o queixo confesso... E secretamente... lá bem no fundo, e apesar de saber dos malefícios do uso continuado de chuchas no formato da boca dos miúdos, algo em mim gritou "nãoooooo!!! tu também?? e já?! tão cedo?! vou deixar de ter o meu bebé com aquele ar super mega fofinho a chuchar e com sono?! isto assim, sem qualquer aviso ou tentativas falhadas??!! Nãoooooo!!!".
Mas como sou uma mãe que vai em frente e enfrenta as consequências, não vacilei e agarrei com bravura as chuchas e prometi que as íamos dar no dia a seguir à fada.
E ele deitou-se.
E eu deitei-me com ele a dar mimos e a tentar cortar a conversa que ultimamente se alonga demasiado (estás a crescer rápido P.) e a tentar eu própria não adormecer.
E ele lá adormeceu.
E eu lá fui fazer queixinhas ao T., meio orgulhosa sobre a última conquista do nosso pequenino, meio chorosa por mais um bebé meu a ficar crescido.
Fogo... admito... dói.
Um grande passo para a Humanidade, uma punhalada no meu coração lamechas.

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Dia 2.

De manhã lá fomos deixar, curiosamente tal como tínhamos feito com o mano anos antes, as chuchas na janela da cozinha, à espera que, talvez à noite, ela levasse as chuchas e, como fazia com todos os meninos crescidos, deixasse uma prenda como recompensa.
Ele só falava nisso, embora meio desconfiado (descobri entretanto que a educadora lhe tinha dito que as fadas não existem, a parva...).
(e lá foi o pai esbaforido comprar uma prenda depois do trabalho, e lá fui eu deitar rapidamente as chuchas para um canto qualquer sem ele se aperceber, enquanto explicava qualquer coisa como que a fada já tinha levado as chuchas e devia estar quase quase a trazer a prenda... E ele ainda meio sem saber se a coisa iria mesmo acontecer, lá foi esperando pacientemente)
Mas a surpresa lá chegou. E eu lá fiquei de lágrima no olho depois de observar mais uma vez (o M. teve a mesma reação de incredulidade e felicidade misturadas) o P. em êxtase ao ver a tão esperada prenda - um lego só dele!! (o pobre rapaz tem mesmo o síndrome de filho mais novo, que leva sempre com o que já havia antes, brinquedos ou roupa, sendo que é lembrado a toda a hora pelo irmão que os legos com que brinca não são dele, que são apenas emprestados). O rapaz repetia a toda a hora "isto é meu, só meu, não é mamã?" ou então "tu não tens uma nave destas pois, não? eu empresto-te... mas só no fim-de-semana." ou então "consegui montar isto sozinho, não foi? consegui!" (depois de estar com o pai a montar o lego).
A nave de lego - o seu primeiro brinquedo de crescido. A sua passagem para esse reino tão cobiçado. Todo ele era orgulho.

E assim, mais uma vez, a fada das chuchas concluiu a sua tarefa em grande estilo. E assim, durante muito tempo ele irá lembrar-se do dia em que superou e conquistou algo.
E ganhou um bocado de magia pelo meio.
E nós também.