domingo, 22 de abril de 2018

A Maria

Meus filhotes lindos,

Ando há muito tempo a pensar em adicionar mais um membro à nossa família. Um ser de quatro patas. Ou duas. Um gato, um pouquinho da índia, um coelho... um pássaro? O que acham?
Acho que vos faria lindamente cuidar de um animal, começar a ter este tipo engraçado de responsabilidade. Saber o que é dar atenção e cuidar de um ser.

Mas como do pensar ao executar vai uma grande distância (os que me conhecem sabem o que me custa imaginar um animal o dia todo sozinho em casa) o tempo passa e ainda nada se passa e provavelmente ainda não se passará este ano. O vosso pai e eu temos já muito a acontecer na nossa vida e não nos sentimos ainda preparados para um novo elemento na família, dado que é preciso dar mais de nós ainda.

Pois meus amores, enquanto do alto dos vossos 3 e 7 anos vocês nem se apercebem do quanto penso nestas coisas e no quanto sempre quis ter um animal quando era criança (provavelmente porque me sentia sozinha enquanto filha única), uma coisa engraçada tem-se passado na minha vida. Um pequeno ser tem-se avizinhado volta e meia à nossa janela da cozinha. A Maria, como lhe chama o nosso vizinho. É uma gata adulta, rafeira (estilo Europeu), de rua, linda e meiga. Tem um pêlo sedoso e sobe para a nossa janela para lhe darmos comida. Inicialmente saltava para a nossa janela porque a confundia com a do vizinho do lado (são iguais), mas lentamente comecei a perceber que vinha porque sabia que teria comida se lá fosse ter connosco.

Sempre fui contra quem alimenta gatos de rua. Ter 15 gatos à porta de casa como tinha quando morava com os meus pais, porque uma vizinha se tinha decidido a salva-los a todos, mesmo não estando eles esterilizados, mesmo tendo eles mais ninhadas de gatos a cada ano que passava, mesmo com doenças e xixis  e cocós à porta de casa todos os dias... foi dose. Mas entretanto fui mãe. E de repente, de algum modo - acho que é mesmo isto que acontece quando nos tornamos mães de seres inocentes e pequeninos - os males do mundo tornaram-se os meus. Sempre fui muito carinhosa com animais, mas de repente comecei a olhar para eles de outro modo. Não eram só animais, eram seres, muitos deles um elemento vital de muitas famílias. Compreendia agora o desespero dos donos quando os animais fogem, se perdem ou os roubam.

Mas falava eu da Maria. Embora quisesse alguma distância dela ao início, a verdade é que um dia comprei-lhe ração no supermercado. Foi este inverno. Estava muito frio e pensava onde estaria ela. Se estaria na casa do vizinho quentinha, ou na casa de alguém que também gostasse dela. Pensei naquele pêlo macio, se lhe daria o conforto e calor naquele frio terrível que se fez sentir há poucos meses. E embora achasse que ainda não me sentia preparada para a deixar entrar em casa (não sei se tem doenças, se já passou pelo veterinário, etc etc, e o medo de comprometer a saúde de todos cá em casa travou-me) um dia pensei que pelo menos se estivesse bem alimentada talvez combatesse melhor o frio. E talvez um dia, num daqueles dias em que esteve mesmo mas mesmo frio, se a tivesse visto nessa altura talvez a tivesse deixado entrar...

Não sei. Mas fico mesmo contente quando a Maria aparece para nos visitar. Mal me vê aproxima-se com o seu ar misterioso e independente, e começa a miar. E lá vou eu buscar mais um bocadinho de ração, lá vou eu apagar aquela fome. Se ela vos vê, meus rapazolas, (ou até ao T.), retrai-se, foge logo. A vossa barulheira e excitação não deve suscitar muita confiança nela. Mas se estou só eu ela deixa-me fazer festinhas. Às vezes imagino-a connosco no sofá, aninhada, nós a fazermos-lhe festas (o vosso pai vem de uma família que sempre teve vários gatos,  2 ou 3 de cada vez!!), ela a derreter-se. Sempre adorei o conceito de ter um animal a dormir em cima da minha cama, por exemplo (que se lixe os que não acham higiénico).

A minha sogra, grande defensora dos animais, principalmente dos gatos, ficou deliciada com a "nossa" gatinha. E disse-me uma coisa curiosa. Que os gatos vêm sempre curar algo nos donos. Lêem algo neles e vêm curar alguma dor ou alguma falha na nossa vida. Não sei o que veio ela colmatar aqui. Mas cada vez mais penso que há algum animal à minha espera nesta vida (não é ela, é demasiado independente nesta altura, parece-me). Um ser peludo e fofinho, porque sei que ainda tenho muita meiguice para dar (e receber).