sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

O senhor do mar

Vou muitas vezes andar/correr de manhã cedo, ao longo do mar. Desde que fiquei numa nova situação profissional tenho aproveitado. Não só me faz bem algum exercício físico, como vale ouro sentir o sol (se estiver sol) e o ar fresco na cara. Faz-me bem ao corpo, ao coração e, sobretudo, à mente.

Já não é a primeira vez que o vejo. Nunca prestei demasiada atenção, mas acho que é sempre o mesmo. Cruzo-me sempre com várias pessoas que vão para ali. E acabo por perceber que algumas são habituais, aquilo já é um modo de vida. Às vezes encontro pessoas conhecidas. Umas vezes é só um olá rápido, outras já envolve conversa e, outras ainda, até algum percurso comum.

Por vezes cruzo-me com um grupo de senhores dos seus 70 anos, todos homens. São uns 5. E, aqui há tempos, um deles disse-me Bom Dia. Achei curioso porque quando vou para ali vou de phones, estou no meu mundo, e mal ouço o que me possam dizer. Por vezes nem vejo bem quem passa.

Como sou uma pessoa cordial, dessa vez percebi o "olá como está" e respondi de volta. Mas acho curioso no mínimo. Conhecemo-nos de algum lado? Já falámos e eu não sei? É pai ou avô de alguém que eu conheça? Porque é que me cumprimenta? Cumprimenta toda a gente? Cumprimenta só as mulheres? As mulheres que estão sozinhas? As que estão acompanhadas?

Confesso que me deixa um bocado supreendida aquele cumprimento. Eu, se virar uma esquina e quase esbarrar com alguém, cumprimento-a. Há aqueles encontros que são tão in your face que acho má onda não dizer nada às pessoas. Aliás, dizer olá ou bom dia ou o que for é bom, sabe bem, sentimo-nos vistos e diria que o mesmo acontece no sentido inverso. Quem sabe se estamos a alegrar o dia a alguém.

Mas tenho mesmo curiosidade em perceber porque me cumprimenta ele a MIM. Hoje o tal senhor passou por mim sozinho e acenou.

É porque tenho um ar simpático? 

Estou confusa.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O momento "Love Actually"

Olá meus caros,

A vida da vossa mãe tem tido muitos momentos engraçados e o que vou contar agora é o que eu chamo de momento "Love Actually", uma daquelas situações dignas de filme: o dia em que o meu sobrinho nasceu.

Sempre quis ser tia. 

Não sei bem porquê.. Aliás, sei. É porque isso significaria que tinha um irmão ou irmã, e não tenho. Passei toda uma vida sozinha comigo, na minha mente, sempre que ia de férias com os meus pais ou até na nossa casa. Era lá que vivia a vida que queria, era lá que tinha grandes aventuras (mais tarde a leitura passou a servir para isso), longe de discussões e ambientes pesados. Lembro-me de ser pequena e de estar na praia com os meus pais, e eles incitarem-me a ir ter com outra menina que era da minha idade e estava a brincar sozinha também. Eu nunca queria ir. Tinha imensa vergonha, não sabia como abordar outras crianças. Os meus pais raramente tinham pessoas em casa (amigos ou conhecidos) e era-me desconfortável sair da minha confortável mente para abordar quem quer que fosse (entretanto isso mudou com os anos em que me esforcei genuinamente para ser mais sociável, até porque percebi que se puxar pelas pessoas acabo sempre por ouvir boas histórias - e eu mato por uma boa história!). Basicamente eu já era o que sou agora: uma introvertida que por vezes parece extrovertida.

An extroverted introvert (also called an ambivert) is someone who displays traits of both extroversion and introversion personality types. Such a person can feel comfortable in large groups, but they will also require some alone time in order to reenergize themselves.

Entretanto, quando me casei ganhei uma espécie de irmão emprestado. Não eramos próximos, mas tinhamos uma relação confortável e divertida. Ele teve uma primeira mulher que era muito muito peculiar (pela negativa), divorciou-se e passados uns anos, e já a viver noutro país, arranjou uma namorada nova, gira e com uma vontade insaciável de viajar. Os anos foram passando e um dia chegou o casamento. E depois chegou o filho. Eu nem queria acreditar, ia ser tia!! Bem sei que não são laços de sangue (e eles moram longe), mas somos todos crescidinhos e já aprendemos que nem tudo o que é de sangue é ouro. Por vezes temos pessoas que são família mesmo não sendo de sangue. Tenho uma tia-avó de 95 anos que não é mesmo minha e que eu sei que no dia em que morrer vou chorar como se não houvesse amanhã.

Mas dizia eu, um dia chegou o filho. O filho era um bebé que tinha, como todos têm, uma data para nascer e a certa altura percebeu-se que ele iria nascer naturalmente no país onde eles viviam e trabalham, e onde ela era seguida. A questão é que os bebés não nascem no dia em que as pessoas querem, nascem no dia em que lhes apetece, e a família toda cá tinha dificuldade em decidir se comprava bilhetes de avião na data x ou y porque era uma incógnita (e porque os bilhetes para lá não são baratos para ir só um par de dias). Ou seja, as visitas que eles teriam seriam já algum tempo depois de o bebé ter nascido. Iam estar completamente sozinhos no dia em que o bebé nascesse e provavelmente nos dias a seguir também. 

Decidimos então que nós, tendo alguma facilidade em bilhetes de avião (tanto em valores, como em escolhas de última hora), poderiamos tentar ir lá no fim de semana em que estava previsto a criança nascer. Ainda vacilei bastante porque a probabilidade de irmos e não acontecer nada era grande! E eu não queria ir num fim de semana e depois ter de voltar a ir no outro com a criança já nascida - temos logísticas cá também com os nossos filhos, que não iriam connosco. 

Mas um de nós estava determinado lol (e agora olhando para trás, acho que foi a atitude correta). Não queria deixar o irmão sozinho numa altura tão importante. Então, combinámos com os avós e deixámos os miúdos com eles numa sexta à noite - o bebé supostamente nascia no sábado. Preparámos uma mala com as coisas essenciais e esperámos.

Sábado. Mal dormi nessa noite. Logo de manhã cedo olhámos para o telemóvel e nada. Bilhetes ainda por comprar. A decisão de ir ainda estava em aberto... 9h, 10h, 11h, 12h... Eu a certa altura já a ficar de mau humor, a queixar-me que era uma estupidez, que iamos ficar a olhar para o relógio o fim de semana todo e não iamos aproveitar nada de nada, etc etc. Às vezes sou uma pain in the ass, eu sei.. 

Entretanto o X (vamos-lhe chamar assim) manda mensagem a dizer que parecia que ela estava em trabalho de parto, que tinha começado com dores nas costas na noite anterior. Ainda estavam em casa. Mas se calhar iam para o hospital. Ainda lhe roguei pragas por dizer aquilo tão em cima da hora (típico dele). mas a partir daí foram as horas mais curiosas da minha vida. Parecia que estava a ver um filme na TV...:

Comprámos imediatamente online os bilhetes especiais (havia lugares!), vestimos os casacos e literalmente quase voámos até ao aeroporto - o voo era às 13h30 (por aí)... Tinhamos zero tempo para fazer o check in e entrar no raio do avião. Só me lembro de me começar a rir enquanto corriamos que nem loucos para o gate certo. Mas conseguimos! Tinhamos de ir a essa hora, ou era aí ou só havia à noitinha. Entrámos esbaforidos no avião, tivemos uma sorte do caraças porque nos fizeram um upgrade para classe executiva (na prática a pessoa tem apenas mais espaço para esticar os pés e dão-nos uma refeição quente - e não uma sandes fria que é o que agora fazem) e lá se passaram 2h em que tentavamos adivinhar se a criança estava a nascer por aquelas horas. Foi uma excitação!

E nasceu! Quando aterrámos tinhamos mensagem a dizer que o bebé tinha nascido. Mais uma vez voámos, desta vez até ao hospital. Não faziamos ideia de como chegar lá mas... vivam os Ubers!! (que também tivemos dificuldade em perceber onde andava o homem... um indiano que falava mal e que não percebia em que parte do aeroporto, cá fora, estavamos nós). Foi o caos. 

Chegámos ao hospital e foi uma alegria :) Foi mesmo giro! O X veio ter connosco, estava sozinho claro. Ela ainda no quarto. O bebé tinha nascido há 2h. O hospital curiosamente parecia um mini centro comercial, porque tinha lojas no piso de baixo (nunca tinha visto tal coisa), uma delas era um supermercado pequeno. Antes de subirmos ao quarto comprámos comida e flores.

E fomos ver o bebé. Já sabem como é um bebé recém-nascido: um bonequinho (neste caso meio loiro) pequenino com um chorinho de miar de gato, ainda meio sem saber o que lhe tinha acontecido. Ela, com um ar fantástico e rosado (lembro-me bem da adrenalina que é e de ainda estarmos bem alive and kicking do esforço todo), mesmo que cansada. Fez o parto todo sem epidural... é obra!! E mais uma vez tivemos sorte - embora houvesse horário de visitas, as enfermeiras deixaram-nos estar ali montes de tempo... horas. Acabámos por ir embora do hospital mais para eles poderem descansar e usufruir do momento (lembro-me que quando tive os meus filhos basicamente só avisei no dia a seguir que eles tinham nascido - exceptuando aos avós -, não queria uma enchente de visitas ou mensagens de telemóvel, é tudo tão intenso que precisava de paz nesse dia).

Fomos embora no dia a seguir. E eu fiquei sempre com aquela nitida sensação de que esta era uma boa história para contar. Pequenina e para muitos sem importância de maior. Mas para mim foi só incrível!



quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Não há hipótese...

 ... acho esta miúda um estrondo. E não sei como me escapou esta música. Entretanto ouvi-a e já está em modo loop. Deixo aqui o vídeo. Acho que o vídeo devia ser uma cena de um lap dance lol.




Mais conversas

 Entramos no carro. Pergunto ao P.:

- Já lanchaste?

- Ah...nãoooo... só o leite.

- Então começa já a comer o pão.

- Argh pão...

- Então? não gostas? o que se passa?

- É apenas pão.

- Então o que queres que seja? bolachas não, isso já levas às vezes de manhã.

- Ah podia ser outra coisa qualquer.

- Vou pensar nisso para conseguir variar mais, mas agora tens o pão e tens de o comer. Dá-te energia.

- Oh.. dá dá... só se for no dedo mindinho.

- No dedo mindinho e no corpo todo!

- Ah só se for para ti que és cota!!

WTF??

- Eu cota?? quem dera a ti lol

- Sim, és cota!!


(penso "Cota é a tua mãe!!!" Mas depois penso: "bem, exato. Eu sou a mãe dele... jesus"


Poderia dizer que na verdade sou é uma MILF ahahaha mas não posso.

Enfim... o que temos de ouvir destes bezerros de leite que são os nossos filhos e que não sabem nada da vida... 😝

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Conversas

 Vou buscar o mais novo à escola:


- Então P., que tal tudo?

- Tudo ok. Quer dizer...

- Então? não me digas que o teste de hoje não correu bem.

- Ah isso, sim correu.

- Então o que foi?

- Humm prometes que não ficas chateada?

(começamos... lol a estratégia dele para me amanssar)

- Ai... então. O que se passa?

- Prometes?

- Vá prometo. Diz lá.

- Bem, então é preciso para amanhã uma capa toda preta tipo feiticeiro, mais calças assim e assado, mais camisola x e y.

- What? a sério? e tem de ser já para amanhã? A professora não tinha já dito nada antes?

- Errr... pois... já... Eu é que me esqueci de te dizer...

(ai que os grupos de Whatsapp dos pais não anda a funcionar como deve ser!!)

- Nãooooooooo!!! então mas agora onde é que te vou arranjar uma capa preta?! e se for a do Harry Potter (do carnaval)?

- Não pode ser... Essa é vermelha de um dos lados. Tem de ser toda preta, é a capa para fazer de médico da Peste Negra.

- Ahhhhhhhhhhhhhhh!! só se formos espreitar o Chinês. Ou então ver se alguma avó tem alguma coisa desse tipo que sirva...

- Mas é já para amanhã... Vamos num instante ao Chinês, sim?

(e fomos... vantagens de ter mais tempo livre)

- Ai P. só me apetece bater-te!!!!!!!!!

- Ah mas disseste que não te ias chatearrrrr.... ahaha

- E não estou chateada. Mas apetece-me bater-te na mesma! :P


A fuga

 Andei anos a fugir. 

Fugi de tudo. 

Nem sei bem do quê.

Fui para bem longe para acabar por voltar à zona onde sempre vivi.

Fugi do amor.

Fugi de pessoas.

Fugi da monotonia.

Fugi porque queria mais. 

Nem sei bem o quê.

Agora acho que me encontrei.

Um bocadinho mais pelo menos.

Já sei do que fugia.

Mas continuo sem saber bem para onde vou.

E agora?

O que faço depois de me encontrar?

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Coisas minhas... (parte 2)

 - O local onde mais gosto de ouvir música e entrar in the zone é no carro, all by myself. Agora que tenho mais tempo costumo levar os miúdos à escola e, de seguida, se não tiver mais nada pela manhã, ainda guio uns 30 minutos ou mais, a vaguear pelas ruas ou pela marginal. A minha mente vai para todos os lugares e para nenhum. É fabuloso. Mas aí não ouço rádio. Ponho as minhas várias playlists, depende do mood.

- A maior sensação de liberdade, fisicamente falando, era quando em teenager fazia patinagem artística. Não há nada como ao mesmo tempo controlarmos uns patins e deixarmo-nos levar por eles. O deslizar para qualquer lado... é imparável. Ao início dá medo porque os sentimos como um apêndice que não conhecemos bem. Mas a certa altura, com a prática, eles passam a ser parte de nós, como um braço. Deslizar para a frente ou para trás... e é magnífico. Um ligeiro vento a passar no rosto, o cabelo a esvoaçar ligeiramente. Claro que estou aqui a falar de uma patinagem suave e de passeio; algo leve. Porque os treinos de patinagem eram duros. Muito físicos. Houve muitas quedas (aprendi a cair aí). Muito músculo nas pernas foi criado ali. Ainda tenho os patins comigo; cada vez que os levanto nem acredito que fazia peões e aviões com aquilo, ou saltos! (vão ver o que é no Google)... são tão, mas tão pesados!

- Adoro dançar. Ando há muito a pensar em aulas de dança novamente (em teenager e nos 20's também dancei) . Mas sempre que vejo hoje em dia, nos ginásios, as aulas de dança a equivalerem todas a Zumba, Kizomba ou danças latinas... até reviro os olhos. Please. Não... Not for me.

- Tenho o objetivo de aprender a tocar em piano esta música https://www.youtube.com/watch?v=GTWqwSNQCcg.   https://www.youtube.com/watch?v=6DmflxfmIB8   Adoro-a. É uma questão de meter isso em prática dado que tenho um orgão cá em casa e as notas devem estar online. Está na minha to do list. Também gostava de a conseguir cantar ahaha A ver vamos. (quando o fizer, hei de pôr o gravador do telemóvel a funcionar e ver o que sai).

- A frase "não consigo" enerva-me. Ouvi-a da boca da minha mãe toda a vida e não a percebo porque muitas vezes isso sai quando nem tentámos. Mesmo que falhemos... tentámos. E às vezes conseguimos. E nada bate essa sensação. O problema agora é tirar essa frase de dentro da minha cabeça adulta. Mina-me o pensamento e faz-me sabotar muita coisa. Prende-me e impede-me de ir a muitos lugares, o que me frustra imenso. Lembro-me quando comecei a pensar ir viver uns tempos no estrangeiro, há muitos anos. Surgiu essa vontade através de uma colega que já vivia fora. Um dia num telefonema que fizemos a contar novidades, ela perguntou-me porque não tentava ir também através de alguma bolsa de estudo. Foi o que fiz, mas nunca encorajada inicialmente pelos pais, que sempre duvidaram que conseguisse arranjar tudo (especialmente o meu pai). Mas não tinha nada que me prendesse cá (a não ser eles e as amigas, mas eu queria voar...) e fui à luta. E consegui. Mandei dezenas e dezenas de CV's a pedir estágios e consegui bolsa e lugar numa residência universitária. Mais tarde, atirei essa façanha ao meu pai. Disse-lhe algo como: "Disseste que eu não ia conseguir, mas consegui.". Desculpou-se a dizer que apenas tinha dito que não ia conseguir só por mim, sem ajuda de uma universidade por trás. Mas consegui sim!! E essa ninguém me tira.

- Não gosto de vento. Mas quem lida comigo no dia a dia sabe disso. Não gosto mesmo nada especialmente quando está uma grande ventania. Bule-me com os nervos. Deixa-me inquieta. Gosto de uma brisa num dia de calor. Agora ventania (e fria!) uff.... Dispenso. Por mim não havia ventania no mundo.

(continua)


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Gostos musicais

 Olá meus caros,

Penso que já aqui referi que desde que o meu miúdo mais velho se interessa por música, temos trocado e partilhado músicas de vários géneros musicais. Sendo que ele me tem levado a um género metaleiro que eu não conhecia, o que tem sido giro; e eu tento que ele oiça (pelo menos 1 vez lol) ou o rock que eu ouvia e gosto, ou outros géneros que tenho descoberto ao longos dos anos.

Hoje no carro mais uma vez estavamos a ouvir umas coisas e aparece na minha playlist esta música dos Alt-J, que eu adoro!!!! Aliás gosto de muita coisa deles, acho que têm um som diferente dos demais, muito absorvente. Adoro!!! 

Coloco aqui o vídeo (que nunca tinha visto, só costumo ouvir as músicas). Esta é daquelas que oiço aos berros no carro quando estou sozinha :) Isto é muito bom!

E curiosamente o meu rapaz disse que gostava deles! :D Que adorava os instrumentos e a musicalidade, que tinham um som muito próprio! UAUU!!! Fiquei orgulhosa.


Every Other Freckle - Alt-J


Agora também ando numa de Billie Eilish. Descobri há tempos esta música... Que sonzaço! E nesta eu adoro o vídeo, adoro tudo nele: ela a cantar (que estilo), as raparigas a dançar, o fogo, o som. Acho que estou com um female crush! Mas esta não sei se o meu miúdo vai gostar...


Watch - Billie Eilish



Outra, que é linda, da minha playlist antiga e que tem muitos anos, but never gets old, e é magnífica!! É uma cover ao piano do James Vincent Mc Morrow e é das covers mais bonitas que já ouvi.

A ver vamos se o miúdo gosta.


 Higher Love - James Vincent Mc Morrow



domingo, 19 de janeiro de 2025

Cenas de mulheres

Olá meus caros,

A vida de mulher tem destas coisas: infeções urinárias. 

É muito raro eu ter, mas quando tenho, tenho à séria. E começo a stressar. E já estou farta. 

A coisa não passa, bebo litradas de água mas a sensação estranha continua lá. Uma merda. Vou no 2º antibiótico e vamos a ver se não tenho de ir ao 3º... Morro de medo pelos rins, já percebi que são o meu calcanhar de aquiles (herança do meu avô). Andava muito relaxada a comer o que queria, mas tenho mesmo de ter cuidado com algumas coisas. A semana que se segue deverá ter novas idas ao centro de saúde provavelmente: médicos, análises e essas maravilhas. A ver vamos.. o 2º antibiótico ainda vai a meio.

Continuo sem menstruar.. Não percebo se está tudo interligado, mas deixa-me confusa e alerta. Esta fase da vida de uma mulher é estranha sem dúvida. E ninguém fala disso.

De resto, o fim de semana está a ser normal e relativamente relaxado. Ontem estive o dia todo de pijama...! É tão bom quando isso acontece. Significa que não tive de sair para lado nenhum e, à parte das coisas intermináveis de casa (roupa principalmente), não há nada de mais a fazer. Isso significa que passo uma tarde de ronha no sofá a ver algum filme. Adoro não fazer nada, abstrair-me de tudo e não pensar em nada.

Embora goste sol e calor(!) e ir passear e apanhar ar fresco, também adoro ficar em casa (o mais quentinha possível) e não ter obrigações de maior.

Esta semana que vem quero ver se faço alguns telefonemas e combino coisas por causa de começar a avançar com possíveis trabalhos freelancer. O subsídio não me pode impedir de fazer certas coisas... Estar a recusar possível trabalho (mesmo que me dê pouco dinheiro, suspenda o subsídio e não dê para pagar contas) pode estar a ser um grande erro, porque depois as pessoas não me voltam a contactar. E isso sim pode afastar um possível trabalho mais sério no futuro.

Sinto-me numa posição vulnerável. Estar dependente de um subsísio que depois irá acabar e estar também dependente do nosso conjuge... é estranho e assustador. Tenho de mudar o mindset acomodado e cheio de medos para o mindset de "eu consigo dar a volta a isto".

Instagram. Embora adore andar a ver coisas no Instagram e partilhar coisas também (aquilo é mesmo viciante), tenho tentado estar mais afastada. Não me faz bem. Só me aparecem posts de empreendedoras(es) a falar de como com um certo produto digital deram a volta à vida e passaram a ganhar dinheiro no valor de 6 dígitos, etc e tal. Ou a falarem de investimentos (tudo o que é workshops gratuitos costumo alinhar... bem sei que no fim querem vender os seus produtos, mas no entretanto tiram-se dali informações úteis.). Parece que no mundo digital tudo aparece e acontece. Toda a gente vive para emprender e fazer, e se por um lado isso me inspira (a sério que sim), por outro fico a sofrer de FOMO (Fear of missing out). Fico ansiosa a pensar que devia fazer mais do que faço, que todos são melhores do que eu, que todos estão melhores do que eu. Todos viajam, vivem bem, todos empreendem, todos ganham muito dinheiro, todos são super talentosos, todos são super qualquer coisa. Às vezes fico assoberbada. Por isso decidi afastar-me mais, durante um bocado.

Dito isto: estou bem, sinto-me bem. A tentar não pensar muito. Um dia de cada vez. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Coisas minhas...

 Olá meus caros,

Todos temos os nossos segredos. Bem, não são segredos em si, mas aquelas coisas que escapa à maioria dos comuns mortais que nos rodeiam. A saber:

- Não gosto de banheiras. Aquelas típicas, com rebordos, escorregadias, mesmo boas para se escorregar e partir algo. A não ser que me enfiem num jacuzzi (aí sim estamos a falar bem), entro e saio de uma banheira em menos de 5 minutos. Penso sempre que numa outra vida fui uma estrela de rock e morri ali com drogas ou outra coisa do estilo.

- Não sou religiosa. Não acredito em Deus, etc e tal. Mas tenho fé. Na Humanidade, nas pessoas, tenho fé que o mundo apesar de tudo é bom. Tenho encontrado ao longo da vida quem sempre me tenha provado isso. Curiosamente quase acredito que há uma grande possibilidade de termos vidas passadas. Há energias que simplesmente não se explicam.

- Não tenho a certeza de que haja um universo paralelo onde habitam todas as pessoas que morrem, mas gostava que fosse verdade. E, por duas vezes, vivi situações que me levaram a crer que sim. Foram das experiências mais surreais que já tive na vida. (querem que vos conte?)

- Todas as vezes que ando de comboio, quando estou na plataforma ainda à espera que passe um, sempre que passa primeiro um Rápido, de todas as vezes, TODAS, o que me passa pela cabeça é "E se eu agora saltasse?" ou "Qual será a sensação de bater num comboio em andamento? morremos logo? ainda pensamos algo enquanto estamos todos esfarelados?". Acho que das poucas vezes que partilhei este pensamento dark foi com um amigo meu estrangeiro que também não bate bem da bola. (não, não me vou atirar by the way... prezo demasiado a vida).

- Prefiro o Campo à Praia. Vivo num sítio de praia que faz fronteira com paisagens mais verdes, serra. Gosto dos 2 cenários e usufruo dos dois. Mas se tivesse de escolher um para sempre seria o Campo. Ou a floresta. Adoro florestas. O mar deixa-me desassossegada às vezes, mas as árvores, as folhas, a cor verde, a terra, o silêncio ou o barulho dos pássaros... isso deixa-me em paz. Uma vez, há muitos anos, tive o privilégio de ir a casa de um amigo que vive na Finlândia. Era a segunda casa do pai (eram separados os pais do meu amigo) e era numa zona fora da cidade, a 1h ou mais. A certa altura, de carro, entravamos numa zona de floresta quase cerrada e eis que surgia uma clareira enorme com uma cabana de madeira (WC fora) + cabana de sauna, com um lago mesmo em frente. Estavamos rodeados de árvores altíssimas... Era verão e cheirava a madeira. Cheirava muito bem. À noite lembro-me de aproveitar uma desculpa qualquer para ir "lá fora"e apanhar-me sozinha ali no meio das árvores. Estava silêncio mas ouvia-se a brisa a passar pelas folhas. Se não estivessem à minha espera, teria ficado ali umas horas a absorver aquilo. Via-se o reflexo do lago (seria um bom cenário para um crime, mas afastei as minhas maluquices psico para o lado...), o ceú escuro e estrelado. Já viajei muito por esta altura.. vá.. alguma coisa, e estive neste lugar apenas 2 dias (máximo 3), mas é das melhores recordações a nível de sítios por onde já passei. Era de uma beleza e paz... Nunca lá voltei e não devo voltar. É pena. Viveria num sítio assim sem sombra de dúvida. 

- Adoro regar plantas e flores. No verão rego todos os dias as poucas que há no meu quintal, ao fim do dia. Se estou por acaso na casa de uma tia muito velhinha que tenho, também sou eu que vou regar. Há algo no ato de continuar a dar vida àqueles seres, de dar fresco no meio do calor. Não sei. Não sei porque gosto tanto, mas é algo que me acalma o espírito. Também gosto de cortar as folhas secas das flores e deixar as que estão boas.

- Adoro ver árvores com fruta e gosto de as apanhar. Quando era miúda, no verão, às vezes ia para a quinta do meu avô e andavamos lá a apanhar peras. Ou com uma roca ou comigo a subir às árvores. Também cheguei a cavar batatas :) Era o que fosse preciso. Boas memórias! 

- Não adoro cozinhar. Mas adoro fazer bolos. Não há melhor cheiro no mundo do que o de um bolo acabado de fazer.


(continua)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Mood of the day

 













A Amiga

 Olá meus caros,

Sobre amizades que são família...


Tinha 15 anos. Mais uma vez mudava de escola (dos 10 aos 17 anos mudei 3 vezes de escola pública - antes estive em creches e num colégio privado especializado no ensino musical). Já não me lembro se estava no 2º periodo ou 3º. Saía todos os dias de casa e ia de manhã apanhar o autocarro para a escola. Invariavelmente comecei a ver as mesmas pessoas por ali. Todos nós fazíamos o mesmo: ensonados, lá chegavamos lentamente à paragem com ar de quem dormiria mais um bocado, ou então corriamos desalmadamente para chegar mesmo no segundo em que o autocarro chegava... precisamente porque tinhamos dormido mais um bocado. E, tal como eu, todos os dias uma determinada rapariga colocava-se na fila. A situação repetiu-se, dias, semanas e meses. 

Um dia o autocarro não chegou. Todos nós esperámos vários minutos, a certa altura quase 1h. De súbito, um carro pára ao pé da fila e alguém lá dentro chama a tal rapariga. Ela acena, entra e fecha a porta. Segundos depois volta a abri-la e chama-me, pergunta-me se quer ir com ela e com a avó (ou era a mãe?) que tinha passado ali e percebido o que se passava. Eu sabia que ela andava na mesma escola que eu porque saíamos na mesma paragem, mas não a costumava encontrar muito. Fui.

A partir daí nunca mais nos largámos. Sempre que nos sentavamos no autocarro iamos juntas a falar. Percebi que morava muito perto da paragem e um dia, depois da escola, acabei por ir para casa dela. Não havia assunto sobre o qual não falássemos e não havia parvoíce que não dissessemos. Não sabia ainda, mas aquela ia ser uma amizade para a vida. Ou eu ia para casa dela ou ia ela para a minha. Acho que ia eu mais a casa dela, ou porque estava logo ali depois da paragem, ou porque estavamos mais vezes sozinhas. Ela não queria saber se a casa dos meus pais era uma vivenda ou se tinha piscina (aliás o condomínio é que tinha! um atrativo gigante para os amigos e conhecidos nessa fase. Quando conhecia alguém novo demorava meses (ou anos) até dizer algo sobre a piscina... odiava o súbito interesse na minha pessoa depois disso. Aliás, até hoje nunca refiro o que tenho ou não tenho). Ela genuinamente divertia-se comigo e adorava a minha companhia e isso bastava. Eu também não queria saber se ela vivia numa casa pequena ou grande. Era minha amiga e bastava. 

Com o tempo percebi porque é que eramos como 2 ímanes atraídos um pelo outro. Tenho percebido com os anos (já são alguns agora) que há sempre uma razão profunda para as pessoas se conectarem - mesmo quando não sabem logo porque isso acontece. Imagino que devemos ter algum tipo de energia, alguma... não sei... aura... que a outra pessoa capta. Às vezes aparentemente as pessoas parecem muito diferentes à superfície, mas no fundo são muito similares. Ou há algum trauma escondido, algum traço de personalidade, há sempre algo. No caso dela, o nosso elo profundo era saber como a outra se sentia no meio de uma vida familiar infeliz. Nem precisavamos de falar...

Tal como eu, ela era filha única. E, tal como eu, assistia e vivia na pele viver num lar sem amor. Aparentemente tudo funcionava bem. Famílias normais, empregos normais, escolas normais, férias normais, conversas normais. Porta adentro... assistiamos a uma frieza de relações e por vezes a uma violência verbal sem par. Nunca consegui comparar com precisão porque só tinha aquilo que ela me contava. Mas percebia que por vezes não queria ir para casa, entendia a sensação de querer estar sempre noutro lugar (algo comum a mim). Percebi que a desestabilização nas nossas casas era sobretudo provocada por discussões cujo cerne tinha a ver com o vazio emocional dos pais (homens). Era um vazio emocional direcionado às suas mulheres e por tabela o mesmo se passava em relação às filhas. Eram homens e pais indisponíveis emocionalmente (ainda hoje o são). Os casamentos estavam claramente em crise e isso refletia-se no dia a dia (se bem que agora adulta, sei que para dançar o tango são precisas duas pessoas, e um casamento não falha só por culpa de uma). Mas o vazio emocional, o egoísmo brutal deles e o peso das palavras violentas para com as nossas mães (e a resposta delas) teve o seu impacto em nós, miúdas. Da minha parte, percebi mais tarde que assistir ao casamento dos meus pais fez-me fechar a qualquer tipo de amor. Fugia a 7 pés de namoros ou de algo onde me sentisse aprisionada. Era fria e joguei algumas vezes com os sentimentos de pessoas, numa espécie de vingança. A mim não me apanhariam nessa história de ficar rendida e depois sofrer. Na altura, não colocava isto por palavras, só mais tarde é que consegui verbalizar e com ajuda. 

Por causa disso sei também que perdi algumas oportunidades que podiam ter sido bonitas naquela fase da vida (teenager). Lembro-me bem de, num determinado ano, ter 2 rapazes que entravam sempre no mesmo autocarro que eu, de volta para casa. Um muito, muito calado. Muito tímido. O outro, o oposto - claro. Super desbocado, super pateta - tivesse eu tido a coragem de ser amiga dele e tinha-me divertido à grande de certeza. O desbocado estava a ajudar o amigo. Mandava bocas, mandava indiretas - eu percebia que era sobre mim. Às vezes dizia-lhe: Vai lá falar com ela!!  O outro a morrer de vergonha. Coitado... sofreu um bocado ali às mãos do amigo. Mas este só queria ver se a coisa se desenrolava.  

E eu com o meu ar impávido e sereno... protegida pela frieza, fruto de não me sentir a pessoa mais bonita e apreciada do mundo (e não era! a fase patinho feio durou uns anos! especialmente quando comparada com amigas muito giras que tinha). Não sei o que viu o tal miúdo em mim... Nunca tinha sido alvo óbvio da atenção de alguém e não sabia como reagir. Mas também já tinha sido rejeitada e agora a minha resposta silenciosa era o ignorar um possível pretendente. Tinha medo. O amor não era algo que fosse para mim. Tinha estado 2 anos inteiros antes com uma paixão platónica assoberbada por um rapazito de outra escola, ao qual nunca tive coragem de dizer 2 frases inteiras (mas cheguei a conhecê-lo!). Mas... porque diria? (descobri já mais tarde que, em tudo na vida(!), o máximo que te podem dizer é Não. Esse é garantido. Mas às vezes há Sins. E para chegar aos Sisn tens de ouvir alguns Nãos. Faz parte.) Não era definitivamente a miúda mais gira da turma/escola, de todo ahaha, havia muitas interessadas nele, nunca teria hipótese.

Mas falava eu da minha amiga. Ela era de facto linda e muito boa amiga. E curiosamente tinha interesses muito parecidos aos meus. Não sei porquê ambas adorávamos kung fu e nessa altura vi todos os filmes do Bruce Lee. Adorava o homem. O pai dela tinha matracas em casa (devia praticar algum desporto desse estilo, já não me lembro) e punhamo-nos a treinar com aquilo. Acho que ainda demos uns belos toques no armário dela (e nas nossas pernas e braços) à conta disso... mas ao fim de algum tempo conseguimos dominar minimamente o objeto e fazer alguns exercícios.

Às vezes ela irritava-me. Era muito gira na altura e os rapazes gravitavam em volta dela como moscas a babarem-se. Rapazes miúdos e graúdos. Ela tinha um gesto, para mim nada natural - era feito propositadamente, em que baixava os olhos (como se fosse muito envergonhada) e encolhia os ombros. "Sou mesmo envergonhada e querida" dizia o gesto. Apetecia-me dar-lhe 2 estalos e dizer que estava a ser ridícula, que não precisava de fazer aquele número para ter uma fila de rapazes aos pés; que eles faziam fila na mesma se ela ficasse parada sem falar ou pestanejar. Nunca lhe disse nada. Mas vontade não me faltou.

Com ela vivi histórias muito engraçadas, como o dia em que, depois de uma noitada em grande (saímos vários rapazes e raparigas, algumas pessoas mal conheciamos - estavamos com uns 18/19 anos), e ela decide ao final da noite ficar mais tempo em Lisboa com um determinado rapazinho, sendo que depois ia dormir a minha casa. Nessa noite os meus pais não estavam em casa e dormiram lá algumas pessoas. De manhã cedo, a mãe dela telefona para o telefone fixo da minha casa (não tinhamos telemóveis e eu não sabia que era ela quando atendi)... A conversa foi surreal... ela queria que eu chamasse a minha amiga. Ora... a minha amiga ainda não tinha chegado! (deviam ser umas 9h da manhã). Eu em modo sobrevivência - se nos apanhassem com esta história nunca mais poderiamos sair juntas de certeza - inventei as desculpas de que me lembrei depois de ter dormido 2h. Acho que a desculpa principal foi que ela estava a dormir. Depois, quando a mãe me disse peremptoriamente para a ir chamar, fui em pânico ter com os meus amigos e lá me lembrei da desculpa perfeita: ela tinha ido buscar pão para o pequeno-almoço! (fosse a minha mãe telefonar e aquela desculpa nunca funcionaria... tinhamos sempre pão congelado...) Mas, por pura sorte, a mãe dela acatou a desculpa e pediu para telefonarmos de volta quando chegasse.

(Um aparte: hoje em dia só me dá vontade de rir. Se um dos meus filhos desse essa desculpa, eu não acreditava nem um segundo. E a mãe da minha amiga também não provavelmente :) deixou passar aquela de certeza.)

Noutro momento da nossa amizade fui com ela e com os avós uns dias de férias para o sul de Espanha. Nem sei como é que eles me levaram... Mas devem ter achado que era boa influência para a neta e que sempre estava mais acompanhada com alguém da sua idade. Para nosso espanto e felicidade, eles ficaram num quarto os dois e nós num outro quarto separado. Noutro(!)... piso(!) (se pusesse aqui um emoji seria o de diabinho...). Passámos as férias TODAS (ainda foram uns quantos dias) a bocejarmos assim que chegavam as 21h e a dizer que estavamos cansadas e com sono, e que iamos para cima dormir. 

O que realmente faziamos era irmo-nos vestir melhor e maquilhar, para depois sairmos com um grupo de miúdos marroquinos que estavam lá de férias também. Eram rapazes e raparigas e saíam connosco todas as noites. Iamos passear pela cidade ou então iamos para uma zona de jogos do hotel. Ficavamos acordadas a noite toda e depois, de manhã, levantavamo-nos às 6h e tal porque tinhamos uma visita guiada qualquer (a viagem era um tour organizado para sócios do Inatel) O motorista do autocarro (um tipo dos seus 30 e poucos anos) e o guia só se riam quando nos viam. Adivinhem... encontravam-nos todas as noites pela cidade ou pelo hall ahahah. Nunca nos denunciaram, eram uns porreiros. Chegámos a ver o guia (um homem casado, com os seus 60 anos) a passear-se calmamente com uma mulher nova pelo braço, na cidade.

Hoje em dia se eu soubesse que os meus filhos andavam com marroquinos a passear ficava gelada. Podiam ser raptados ou algo assim. Preconceito? Talvez. Mas já não digo nada. Tudo é possível e já tive alguns sustos em saídas à noite. Mas ser mulher é bem mais vulnerável do que ser homem nesse tipo de situações.

A minha amiga vibrava com Pearl Jam e Metallica. Sempre que os oiço lembro-me dela e desta fase. Demos alcunhas parvíssimas uma à outra (que tiveram origem nos jantares em Espanha) e que ainda hoje perduram.

Mas um dia a minha amiga chegou ao limite com a sua situação familiar. Arranjou maneira de se afastar para bem longe: foi estudar para o estrangeiro. Parte da universidade dela foi feita fora. Deu-me a notícia que ia embora poucos meses antes de ir. E foi um choque. Ela era o yin e eu o yang. Estavamos juntas a toda a hora. Mas não podia fazer nada. E esperei que fossem só uns anos e que voltasse. Curiosamente ela dizia sempre "quando eu voltar, vamos fazer isto e aquilo". Nunca voltou. Nem vai voltar. Sei disso há muito tempo, deixei há muito de dizer "quando voltares". E dói um bocadinho porque nunca mais foi aquela amizade presente fisicamente, de combinarmos coisas. Estamos juntas regra geral 2 vezes por ano, no verão e no natal. Mas às vezes não conseguimos. Às vezes há tanta coisa a acontecer nessas alturas que não nos vemos. E quando vemos é uma tarde, máximo duas. Por vezes tentamos ir jantar as duas sozinhas ou ir ao café. Mas nem sempre dá. Falamos algumas vezes por ano por videochamada, mas não é a mesma coisa; enviamos fotografias volta e meia do que andamos a fazer, o que os nossos filhos andam a fazer, as novidades. 

Sempre que falamos pegamos na conversa anterior e até podiam ter passado anos que a intimidade a falar é a mesma. Teremos sempre 16, 17, 19, 20 anos. A nossa linha está ali. Não mudámos o nosso ser, mas evoluímos. Muita coisa aconteceu nas nossas vidas, umas vezes mais desencontradas outras menos. Sabemos, se não tudo, muita coisa uma da outra. Ela ouviu-me em fases difíceis da minha vida, não julgou, tentou aconselhar-me o melhor que sabia. Eu espero ter feito o mesmo por ela. 

A minha vida desde que se foi embora foi infinitamente mais solitária. Foi embora um pedaço de mim. Felizmente tinha outras amigas. Com duas delas em particular tinha uma relação muito próxima parecida e acabei por gravitar novamente mais para elas, se bem que a vida acontece, relações, namorados, trabalho, casamentos, abortos, filhos, etc e embora sejam amizades estreitas, já não são tão fisicamente presentes.

Mas ela, juntamente com essas outras amigas, são a família que escolhi. Mesmo com todos os seus terríveis defeitos e manias :) Digo-lhe isso muitas vezes. E digo-lhe que gosto dela. Ela nunca responde, mas eu sei que sente o mesmo. Acho que se ela me respondesse desatava a chorar. E eu não julgo, porque sei que não é fácil admitirmos que amamos alguém.










segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Obsessed with this girl

Olá meus caros, 

Comecei a ouvir esta moça por acaso. Só meses mais tarde é que fui ver quem ela era. Adoro! É uma miúda sexy, dança muito bem (a maioria dos vídeos são a dançar) e adoro o tom de voz - canta incrivelmente bem! Fosse eu homem e dava-lhe uma trinca. Sendo mulher hetero... aprecio-a apenas e oiço as músicas em loop

Vale apenas ouvir as letras e ver os vídeos.




https://www.youtube.com/watch?v=A6eWXnid_6c