domingo, 2 de março de 2014

Sem título

Há dias em que tudo parece estar bem, estamos de bom humor, é mais um dia de fim de semana em que se tenta aliviar a cabeça dos desafios semanais. Depois, de repente, uma história vira-nos de cabeça para baixo...

Hoje é um bom dia. Vamos levar o M. à festa de uma amiga da escola. Ela faz anos, já temos a prenda e aí vamos nós deixar o rapaz (é a primeira vez em que nos vamos embora para o ir buscar mais tarde). Chegamos, tudo animado, a boneca faz 4 anos e, penso eu, tudo é uma alegria.
A conversa segue-se mais ou menos assim:
- Olá, estás bom? Muitos parabéns! - digo eu sorridente para o pai.
- Olá, tudo bem, então temos aqui mais um homem-aranha!
- Hehe sim, já sabes como é... A tua mulher?
- Ah está ali, acabou de chegar à bocado, esteve com o M. (o irmão mais novo da aniversariante).
- Hum... esteve com ele... ele estava a dormir era? - digo eu a tentar não parecer confusa.
- Ah... vocês ainda não sabem...
- Ah... não, acho... O que se passa? - perguntamos à espera de tudo menos aquilo que ouvimos de seguida.
- Ele está no IPO internado... Na outra semana descobrimos que tem um Linfoma de Burkitt (já não me lembro bem, mas acho que era este o nome). Começou com sintomas agressivos num dia, no outro já estava no IPO... Ele é pequenino e até está bem, mas custa-nos um bocado...
Tento conter-me e não desatar a chorar. Estou completamente chocada. O M. é um ano mais novo que o meu M. e é um menino fofo com todos os outros, lindo, querido e com ar maroto, despachado como são os segundos filhos.
- Mas como é que descobriram isso assim de repente? - nunca sei se hei de fazer mais perguntas, mas parece-me que mostrar interesse (e estava de facto interessada) é sempre bom para os pais. A estes cabe depois desenvolver o que acharem melhor, o que quiserem e o que conseguirem.
- A barriga dele começou a ficar muito inchada, anormalmente inchada. De repente tinha a barriga muito dura e grande e achámos estranho. Depois de mostrar isso a uma médica amiga fomos com ele para o hospital. Alguns exames depois e estava no IPO. Vai ter de levar um tratamento bastante agressivo (este tipo de cancro também é agressivo e rápido) durante uns meses, mas as hipóteses de cura são muitos boas. Está tudo confiante.

Entretanto vejo a mãe, dou-lhe um abraço, os parabéns pelos anos da princesa e lamento também o que se está a passar. Não fazia ideia, pergunto se posso ajudar, se querem que tome conta da boneca em alguma situação, algo assim. Ela está abatida, mas está ali inteira, com fé nas boas notícias que tem tido desde que o rapaz está internado. Mas sinto-a cansada e a tentar não desanimar. Caramba, admiro-a!, está a portar-se como uma super mulher! De repente percebo porque é que a festa foi organizada pela mãe (ou mães, acho q foram 2) de outro menino da turma deles. Para não terem de cancelar a festa dos 4 anos da menina, elas tomaram as rédeas e ajudaram a fazer as coisas, mesmo que a mãe não pudesse ajudar muito. É isto que ainda me dá fé nas pessoas. Tivesse eu sabido a tempo e entraria na ajuda.

Não quis continuar mais a conversa (depois de um bocado deve ser demasiado doloroso para os pais), é bom saber o que se passa, mas aquele momento era de festa (pelo menos o mais possível) e era nisso que se tinham todos de concentrar. Os miúdos brincaram, comeram guloseimas a tarde toda, cantaram-se os parabéns. Foi giro. Espero que aqueles pais (os quais conheço há muitos anos, mas não intimamente) se tenham conseguido abstrair durante uns momentos da sua dor.
Quanto a mim, claro, já me conheço, fui para casa deprimida, a dar muitas festinhas ao M. e agradecer aos céus a saúde que temos e a rezar para que assim se mantenha. Estas doenças repentinas assustam-me... Espero e rezo também que o filhote daqueles pais se cure rapidamente e que o sofrimento da quimioterapia não seja agressivo de mais naquele corpinho miúdo. Espero que o mundo e as pessoas mandem boas vibrações para aquela família que bem precisa neste momento.

Sem comentários:

Enviar um comentário