quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Natal

(1982)

É de noite e estou à janela com os meus primos, a D. e o I.
A minha tia diz entusiasmada "Ali, está ali, viram?!", "Onde?!!" gritamos nós, "Aliiiii... Não viram?", "Não..." dizemos nós desapontados, a olhar para todos os lados. A minha tia ouve de novo o barulho dos sinos das renas "Ah estou a ouvir de novo, olhem! olhem! está a passar além!". Olhamos para o sítio apontado, mas o Pai Natal e as suas renas escapam-nos mais uma vez. Ele anda tão rápido, na sua pressa para distribuir os presentes todos, que nunca o conseguimos ver. Só a minha tia. E a minha mãe. Eu bem me esforço e estico o pescoço para tentar ver o céu escuro e estrelado para lá da janela, mas... nada. A excitação está ao rubro. Ele está quase a chegar e traz muitas prendas! Nem conseguimos acreditar que há um dia no ano em que um velhote simpático de barbas brancas nos traz os presentes todos que queremos (já mais velhinha, a começar a desconfiar da coisa, eu achava que este velhote era algum um amigo super rico do meu pai).
De repente o meu pai, o meu tio e os meus avós chamam: "Ahhhh Já está aqui! Já chegou!! Venham, está aqui com as prendas!!". Vou a correr, o coração acelerado, quero ver o Pai Natal finalmenteeeeeee, quero ver as prendaaaaassss! Mas, ai que ele já saiu agora mesmo pela porta, não o viste a sair?, estava com pressa, tem de ir entregar o resto das prendas aos outros meninos. A certa altura já não interessa. Estamos todos fascinados a olhar para a quantidade incrível de prendas à volta da árvore. E é o ataque! e é Natal! e somos miúdos e estamos a viver uma das épocas mais mágicas na vida das crianças.


(2013)

É de noite e o M. está à janela, na casa da minha mãe, com ela e com a D. (a minha prima e a madrinha dele). "Está ali viste?, "Onde, onde??" tenta ele ver com muita atenção, "Ali, ali!" dizem elas.
E enquanto prosseguem com a tentativa de descobrir, no céu escuro, o Pai Natal e as renas (dizem elas que até ouvem os sininhos das renas) os vários ajudantes do Pai Natal, lá em baixo, passam rapidamente as prendas todas da garagem para a sala. Uma Mãe Natal disfarça-se o melhor que pode em Pai Natal e espera não ser reconhecida. Depois toca um sino e diz alto "Ho!Ho!Ho!". Eu grito lá para cima "Venham! O Pai Natal já chegou e está a entregar as prendas! rápido venham!".
E o M. começa a descer de mão dada, e vê o Pai Natal!!

Momento super mega delicioso da noite: mal o vê lembra-se que os "crescidos" não andam por aí de chucha e muito menos em frente ao Pai Natal e saca rapidamente a chucha (que por acaso tinha na boca) e grita-me urgentemente "Mamã! Mamã! Guardaaaaa!"
ahahahahahahahahahahahahahahahahhhhhhhhhhhh

Desce mais uns degraus e olha atento, embasbacado para o Pai Natal que já está a sair e a dizer adeus porque a noite já vai longa e ainda tem de distribuir o resto das prendas pelos outros meninos. O M. ainda tenta espreitar para onde vai ele, mas já todos lhe chamamos atenção para as prendas. É um mar enorme de prendas grandes e pequenas, muita cor e alegria.
"Posso abrir esta prenda?" pergunta o M.
Sorrimos, essa não, essa não é para ti: "Olha abre antes aquela". E assim começa a verdadeira emoção do M. aos seus 3 anos (e quase meio) de idade. Depois de uma prenda aberta, de repente ele rasga o embrulho de outra prenda bastante grande. O embrulho é de um amarelo forte e quase que grita para ser aberto. E o barco... O famoso barco dos piratas, que foi tão, mas tão pedido, surge. (Tive de filmar o momento, aliás filmou-se tudo desde que ele começou a descer as escadas, para olhar para ele mais tarde.) Fiquei de coração quente... O M. quase dava saltos de excitação e gritinhos :) O meu docinho nem queria acreditar que o Pai Natal lhe tinha trazido o seu querido barco.
Claro que a partir daí já não queria ver mais prendas (Nota mental: dar a prenda favorita para último no próximo natal) e foi com esforço que olhou para outras coisas bem giras que recebeu. Mas adorou o peluche do Jake, os legos, o puzzle e outros mimos. Ah e adorou a espada que tanto pediu também (comprada no Chinês, o que prova que o mais caro não é o que as crianças mais gostam).
Eu adorei a roupa que lhe deram hehe (é sempre uma grande ajuda).

Pela primeira vez o M. gozou o Natal como deve ser gozado pelas crianças: a desejar que o Pai Natal chegue, a ter a/as prenda/as que pediu, a comer as guloseimas que quis, a deitar-se mais tarde (mas o João Pestana a teimar em chegar, muita esfregadela de olho...), rodeado da família.

Este meu Natal foi importante porque foi o 1º Natal em que o M. se apercebeu realmente do que era o "Natal" (para a sua tenra idade) e gozou o momento. E eu gozei o momento com ele. Gozámos todos acho. E estávamos quase todos. A família quase toda. Todos de boa saúde, todos com boa disposição.
Faltaram os meus avós que de certeza teria adorado ver o bisneto.

Obrigada, obrigada a todos por este Natal :) Fez-me recordar muitos bons momentos do passado (as parvoíces e risotas com os meus primos, os doces que a minha avó fazia e teimava em ter sempre na mesa), fez-me viver com emoção o presente, fez-me ter fé no futuro.

Feliz Natal!

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