terça-feira, 24 de setembro de 2013

O autocarro

Considero-me uma boa condutora. A sério que sim. No entanto, por alguma razão que desconheço (talvez por o meu malfadado instrutor de condução me obrigar, na altura, a estacionar e conduzir por uma Lisboa labirintica com inclinações de 70%) suo estopinhas sempre que tenho de ir com o meu carrito por ruas inclinadas. Evito, se souber que aí vêem, ruas onde tenha de meter a primeira, onde tenha de ter o carro a tremer por todos os lados do esforço, onde tenha de acelerar como se tivesse um Ferrari nas mãos... Eu acho que é uma espécie de fobia. Ou azarice minha. Embora seja boa condutora, volto a dizer (!) E goste muito de conduzir. Mas todos os bons condutores têm miaufas, certo?...
Ora um dos caminhos para minha casa, depois de ir buscar o rapaz à escola, precisamente o mais direto e prático, é mesmo assim: bem íngreme e "assustador".
Certo dia, deparei-me com um autocarro à minha frente. Subia lentamente, em esforço e a minha viatura atrás em esforço também. A meio daquilo pensei: vai chegar lá cima e vai parar, qualquer coisa assim. E eu vou ter de parar também e vou olhar para trás e vai estar um carro atrás de mim e vou ter de arrancar com força, mas o meu ponto de embraiagem não vai correr bem e vou descair o carro e não vou conseguir...e...e... e vou bater no de trás!! Quanto mais pensava nisso, mais decidida dei a volta para trás.
"Mãe, porque estás a virar?", "Errr... porque já não quero ir por ali.", "Porquê?", "Porque o outro caminho também é bom.", "Mas porque não vamos pelo outro?, "Vamos noutro dia...".
Noutro dia volto a ver o dito autocarro. Volto a virar para trás. "Mãe, vamos pelo outro caminho?", "Sim...", "Porquê?", "Porque é melhor...", "Mas o outro caminho também é bom.", "Sim também.", "No outro dia vamos por ali?", "Sim, noutro dia...".
Uf... ele não percebeu a estratégia, pensei eu.
Noutro dia ainda: o autocarro não aparece à minha frente mas, já lançada, continuo pelo outro caminho mais fácil.
"Mãe, MÃEEEEEE!", grita ele muito excitado, "Diz...", "Podes ir por ALI!! não há problema, o autocarro não está ali!!!".

Na altura, e mesmo agora, se a vergonha matasse estaria enfiada num buraco bem mortinha... Fui tão, mas tão apanhada... Pior ainda: dias depois, numa vez em que o pai o foi buscar, aprontou-se logo a contar que eu não ia por ali por causa do autocarro... Ai vida... Eu a querer manter a coisa secreta... Não durou muito.

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