terça-feira, 9 de julho de 2013

Beleza / bullying

É um tema sobre o qual posso passar horas a falar. A beleza e o bullying. Sei umas coisas sobre ambos. Também sei como a falta de beleza pode servir para sermos bullyied à força toda. Ou seja, gozados/as à força toda. E dói. Mas crescemos.

Mas vou começar pelo início.
No outro dia, em pleno almoço com colegas de trabalho, já não sei a que propósito começou-se a falar das Kardashian, as famosas irmãs americanas que construíram um império porque são bonitas e celebridades. Também têm negócios e não são nada parvas... mas isso já ninguém quer saber. Eu, é escusado dizer, adoro o reality show delas. Aquilo é fútil, mas é giro, faz-nos esquecer a nossa realidade um bocado. É só malta bonita, dinheiro, facilidades, uma família grande e divertida. Passo na boa 1h volta e meia refastelada no sofá a ver aquilo só porque sim. Melhora o meu mundo? não. Mas lá que é entertaining é. Por isso até deve melhorar um bocadinho.
E a certa altura, um dos meus colegas diz à boca cheia: "ah aquela maior, a Khloe é tão feia, aquele mastodonte" (ou qualquer pérola do género). Fiquei parva. Aliás fico sempre parva quando as pessoas fazem afirmações dessas. Quem julgam elas que são?

A Kloe?
Sim, porquê, não me digas que a achas gira...
Sim, acho.
Mas ela é enorme!!
Ela é alta e grande sim, mas isso não tira que até seja bonita. Tem uma cara bonita.
As outras são bem mais giras!
Eu também acho, mas daí a dizer que acho essa feia... De todo, mesmo.

Ele pasmado e eu pasmada também.
Ok, se alguém não está a ver a rapariga, aqui vai:















Vêem a fotografia da direita? é uma fotografia tirada na prisão (não, não faço ideia do que fez a moçoila..., gosto de ver o programa, mas não sou fã acérrima de tudo o que lhes acontece). E isto para dizer que: quem me dera se algum dia for presa ter uma foto assim tão gira!! Não teria tanta pinta de certeza...

Não percebo a mania de julgar alguém só porque fisicamente é mais gordinha, ou é magra que nem um cão. O feio e o bonito são tãoooo subjectivos... E não se costuma dizer que quem ama o feio, bonito lhe parece?
Acham a Adele (a cantora) feia só porque é gorda que nem um cachalote? (sim, também sei sei mazinha se quiser, não sou nenhuma santa que acha tudo e todos a maior beleza do mundo). Pois eu acho a mulher um mulherão lindo!! Ok, tem bastantes kg a mais... mesmo. Mas tem uma cara digna de uma deusa e quando abre a boca para cantar é de desmaiar mesmo de tanta emoção que nos transmite. Se fosse gajo... marchava.
Isto para dizer que penso efectivamente que nenhuma mulher (ou homem já agora) é completamente feio. E não percebo o dizer logo para todos ouvirem que este ou aquele são feios. Acho uma atitude má, isso sim é algo feio, pouco simpático e digno da nossa parte. Como se nós não tivéssemos também 500 mil defeitos que todos podem apontar em 10 segundos.

Pronto, já sei. Está tudo a pensar - ela está a falar porque algo já se passou com ela. É uma recalcada. E claro que sim (não o recalcada, mas o já ter sofrido coisas destas). Tento ser boa pessoa, mas tudo tem uma razão de ser. E a minha história resumidamente é esta:
Sempre fui uma criança engraçada, gira até. Era como muitas miúdas: fofinha, sorriso bonito, charmosa. Não acho que fosse um deslumbre, mas era uma menina gira, com pinta. Até que um dia comecei a ouvir alguns comentários menos simpáticos de rapazes de turma. Tinha na altura uns 11 anos. A coisa já tinha começado a descambar há 1 ano atrás. A miúda gira e fofinha começara a ficar esquisita. Braços muito grandes para o corpo e uma cara de fugir. A adolescência tinha começado e as alterações físicas próprias dessa idade não foram generosas comigo. Passei de pintainho giro para pato feio. E não via nenhum cisne a vir assim tão cedo... E foi aí que começou o bullying psicológico (felizmente nunca me cruzei com malta fisicamente agressiva, também sempre me afastei de confusões).
Com o passar dos anos fui chamada inúmeras vezes de feia e outras coisa parecidas. Mas acho que o feia era o mais recorrente. Se doía?... Sim, claro que sim. Mas sempre fui uma pessoa forte (acho eu) e aguentava-me à bomboca. Não tinha outro remédio. Mas doía claro. Principalmente porque não percebia porque me viam assim. Na minha inocência (e talvez tivesse uma confiança relativamente elevada) olhava para o espelho e não via isso que os outros viam. Ficava espantada por os rapazes me dizerem aquelas atrocidades. E depois claro, era sempre a melhor amiga das "giras" o que ainda contrastava mais...
Eu era sempre aquela que assistia aos namoros das outras, a que ficava sentada numa festa de garagem enquanto as outras tinham sempre miúdos que as vinham buscar. Lembro-me de uma vez ninguém me ir chamar para dançar e eu tomar coragem e ir buscar um rapaz (amigo de bairro)... e ele hesitar.... Depois lá dançou comigo. Por pena. E isso sim doeu...
O que sempre me salvou, por assim dizer, foi o facto de ser elegante. E isso a família sempre mo disse, as amigas também. Sempre tive um corpo atlético, mas suave e feminino. Magro mas com curvas. E com o passar dos anos e acentuou-se. E isso salvou-me o ego. Bendito corpo. De repente percebi que podia tomar partido dele e comecei a arriscar com as roupas. Dos vinte e tal para cima foi sempre a subir, a tomar confiança.
Mas dizia eu que não me achava feia, quando todos os outros rapazes o achavam. E o dia chegou em que vi o que eles viram... Lembro-me bem. Eram os anos de alguém de família. Ou os meus, já não me lembro. E estava a olhar para o espelho e a pensar como estava linda. Tinha os olhos bonitos, sorriso quente  e feliz. Gostei do que vi. Achei que estava o máximo. E tiraram-me uma fotografia. E quando vi a fotografia dias mais tarde tive o choque da minha vida... Estava tão feinha... Ou melhor era feia. Eles tinha razão. E vi finalmente o que eles viam.

Depois do choque recompus-me, como sempre faço quando as coisas me correm mal. É o meu modo de sobrevivência de "tudo vai correr bem". Pensei: sou feia agora, mas um dia serei bonita (lia volta e meia a histórias das super-modelos a contarem como eram gozadas na escola e depois ali estavam elas deslumbrantes e bem sucedidas anos depois). Jurei que um dia me iria vingar de todos os rapazes que me tinham chamado aquilo. Que iria encontrá-los e mostrar "estavas enganado, olha para mim agora". Claro que nunca mais os vi. Mas pelo caminho rejeitei um ou outro rapaz (um bem feinho... life is a bitch) que poderiam ter sido bem queridos comigo e que me poderiam ter amado. Rejeitei só porque sim. Porque queria ter o gosto que as bonitas tinham, de poder escolher e dizer: não te quero a ti porque quero um mais giro. Fui parva, claro. Mas estava no direito de o ser.

Na faculdade, embora nos primeiros anos tenha tido ar de geek de cabelo curto à rapaz, ganhei confiança, comecei a compor-me. Um ou outro rapaz gostaram mesmo de mim. Senti-me desejada numa ou noutra ocasião. Foi bom. Era divertida (embora mega mega tímida para quem não conhecia ou  com quem não me sentia à vontade) e as minhas feições começaram a equilibrar-se. Comecei a saber tirar partido do que tinha. Passada a faculdade foi o meu pico. Fui para o estrangeiro uns tempos e senti que era uma deusa grega que todos admiravam e queriam. Foi fenomenal!

Em 36 anos já fui muito amada. Sei o que é amar e ser amada, sei o que é desejar e ser desejada com loucura. Fui mais amada do que amei é certo. Mas penso que a culpa foi de tanta "pancada" que levei. Aprendi a parecer distante e fria para me proteger. Aprendi a agir mais com a cabeça do que com o coração. Senão este era despedaçado. Tive muitas alturas em que me partiram o coração e parti eu também o coração a outros (coisa de que não me orgulho).
E neste momento sei que sou bonita (pelo menos aos olhos de alguns, e mais importante: aos meus). Não sou uma Miranda Kerr ou uma Monica Bellucci (essa sim uma Mulher com M grande, linda, voluptuosa até dizer chega, a sensualidade até lhe sai pelo nariz... Parva!). Mas sei quem sou e que tenho atractivos suficientes para parar o trânsito se assim o pretender. Mais engraçado ainda: ganhei o título de MILF e sinto-me mesmo assim. Quando me sinto o máximo ninguém me pára. Tenho classe, tenho piada, sou interessante (mas a timidez por vezes lixa-me as conversas), tenho fisicamente um corpaço, tenho uma cara gira e traços finos, gosto do meu cabelo.
Ou seja, ao fim de anos como "saco de pancada feio", finalmente sinto-me fantástica e sinto que os "rapazes" (agora já não sou rapazes, são homens) me vêm como tal.
Tenho dias claro. Mas isso acontece a todas nós, mulheres lindas e fantásticas!
Porque como alguém disse um dia - Não há mulheres feias, só há aquelas que não sabem fazer-se belas.

3 comentários:

  1. lindo este post, interessante e tão sincero quanto verdadeiro... identifico-me muito mas mesmo muito com ele... foi como ver-me ao espelho ... sigo-te porque este blog é mesmo muito bom.

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  2. Que texto forte! Lembro-me sempre do ditado inglês "Beauty is only in the eye of the beholder", sempre que penso em beleza. Seja o observador alguém externo ou nós próprios. Podemos ser tão cruéis ou vaidosos connosco como qualquer outra pessoa...
    Eu vejo que somos lindos - e é só isso que me interessa :)

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