segunda-feira, 6 de maio de 2013

O comboio

O comboio vem. Todos ficamos à espera que passe. Instantaneamente dou um passo atrás. Nunca me chego à linha amarela. Tenho medo. De cair. Que me empurrem. Essas coisas...
Tenho medo daquela tentação estranha de... E se agora ao passar o comboio eu me atirasse?
Olho para as minhas mãos, os meus braços. Sou de carne e osso. Tão real. Tão oposta a estes meus pensamentos tão surreais.
Como será cair na linha? Ir de encontro ao metal rápido a passar? O que será que sente alguém que se atira de propósito? Não pensam na dor? Não pensam na dor dos que cá ficam? Ou só pensam na sua dor interna? Sentem a dor ao embater ou é um choque tão grande que tudo se apaga? Ou não se apaga nada e é um sofrimento atroz durante uns minutos?
Fico calmamente no mesmo sítio. A minha cara é igual à de todos os outros. Nem triste, nem contente. Neutra. Olho para as pessoas. No que estarão a pensar? na vida em geral? no que vão almoçar? no filho adolescente que só dá dores de cabeça? no doença da avô? na festa onde estiveram ontem à noite?
Às vezes pergunto-me se sou a única que tem estes pensamentos parvos. Ou se ninguém fala nestes devaneios porque simplesmente isto é estupido de mais....



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